domingo, 3 de novembro de 2013

Canned Heat – Os anos dourados dos reis do Boogie/Blues

Eles podem ser considerados um dos mais importantes e influentes combos do Blues/Boogie americano e mesmo nunca conseguindo lançar grandes sucessos comerciais foram capazes de tocar nos dois maiores festivais de Rock ao ar livre da história, o Monterey Pop Festival em 1967 e o Woodstock Music and Art Fair em 1969. Seus fundadores Bob “The Bear” Hite e Alan “Blind Owl” Wilson, foram dois dos maiores conhecedores do Blues negro do Mississipi da época, sendo responsáveis por verdadeiros resgates da carreira de muitos artistas do gênero quando tocaram seus temas em discos despertando o interesse pelos vários bluesman a muito esquecidos.

Canned Heat Blues 

Por volta de 1965 em Topanga Canyon na Califórnia, um grupo de amantes do Blues que costumeiramente se encontravam na casa de Bob Hite – um dos maiores colecionadores de discos do gênero – resolvem montar um agrupamento para tocarem velhos standards do Blues e suprir suas necessidades musicais, aí nascia o Canned Heat (nome extraído de uma canção escrita em 1928, “Canned Heat Blues” de autoria do bluesman Tommy Johnson) contando neste período com: Bob Hite (vocal), Alan Wilson (guitarra-slide), Mike Perlowin (guitarra-solo), Stu Brotman (contrabaixo) e Keith Sawyer (bateria).
Esta formação não duraria muito, apenas alguns dias para falar a verdade, saíram Perlowin e Sawyer e chegaram Kenny Edwards e Ron Holmes, dois amigos pessoais de Hite que aceitaram segurar a bronca até que o grupo achasse algum guitarrista e baterista permanente para seus respectivos lugares. Sem demora o guitarrista Henry Vestine aparece na cidade pedindo um lugar na banda, ele acabava de ser expulso do Mothers of Invention pelo próprio Frank Zappa devido ao abuso excessivo de álcool e drogas e estava sedento por algo novo e estimulante. O fato de Vestine ser um junkie não incomodou nem um pouco o pessoal do Canned Heat, que aceitaram sua entrada na banda e como havia sido acordado previamente Kenny Edwards os deixava para ao lado de Linda Ronstaldt e Bob Kimmel formar o trio Folk The Stone Poney;  o gruitarrista ainda trouxe consigo o baterista Frank Cook para assumir as baquetas no lugar de Sawyer que também deixou a banda.

A estreia em vinil 

Com a ajuda do produtor Johnny Otis gravaram um punhado de canções para um primeiro álbum, que acabou sendo engavetado devido a falta de uma gravadora interessada no material. A banda então entrou em um hiato que duraria quase um ano, enquanto o baixista Stu Brotman estava na Europa em meio a algumas apresentações em festivais de música tradicional americana o grupo conseguiu descolar um contrato com a modesta Liberty Records – que mais tarde faria parte do grupo EMI – que sedenta por novos artistas exigiu que eles assinassem logo o contrato, sobpressão o grupo decide substituir Brotman por Mark Andes, que permaneceu pouco com eles até voltar para seu antigo grupo o Red Roosters (que futuramente viria a se tornar o Spirit). Os novos empresários Skip Taylor e John Hartmann que cuidaram de arrumar um novo baixista para que as gravações continuassem rolando normalmente, o escolhido foi Larry Taylor que além de ser um exímio baixista já havia tocado com grandes nomes do R&B americano, portando possuía a experiência que seria necessária em estúdio.
Com esta formação lançaram seu primeiro single contendo “Rollin’ and Tumblin’” no lado A e “Bullfrog Blues” no Lado B.
O álbum homônimo de estreia só sairia três meses depois, em julho de 1967, contendo um apanhado de versões para clássicos do Blues e temas tradicionais do cancioneiro americano; o LP acabou se saindo razoavelmente bem nas paradas, atingindo a 76ª posição nos principais catálogos, o que motivou a Liberty prolongar o vinculo com a banda.

Monterey Pop Festival e novas mudanças

A primeira grande apresentação do grupo ocorreu no renomado Monterey Pop Festival em 17 de junho (o que pode ter gerado uma procura maior em seu disco de estreia, lançado quase um mês após o festival), com uma performance eletrizante conquistaram o publico e ficaram marcados como uma das melhores apresentações do festival, conquistando elogios mesmo dos mais duros críticos musicais que chegavam a afirmar queWilson e Vestine faziam a melhor dupla de guitarras em atividade na música.
Foram uma das primeiras bandas americanas a ser presa por porte de drogas, isso a caminho de um show em Denver, sendo liberados em poucas horas devido à falta de provas. Em dezembro do mesmo ano o baterista Frank Cook é obrigado a deixar a banda após um grave acidente de carro, indicando para o seu posto o mexicano Adolfo de La Parra com quem havia tocado no Bluesberry Jam. Foi neste período que tentando popularizar o grupo a dupla de empresários resolveu criar apelidos para cada um dos membros; que passaram a ser chamados de: Bob “The Bear” Hite, Alan “Blind Owl” Wilson, Henry “Sunflower” Vestine, Larry “The Mole” Taylor e Alberto “Fito” de La Parra.

Novamente na estrada – a margem do sucesso

Lançaram seu segundo disco Boogie with Canned Heat ainda em janeiro de 1968, agora quase todo composto de temas próprios a exceção de “On the Road Again” (original de Floyd Jones) que ganhou novos arranjos e foi lançada em single, a canção acabou surpreendentemente alcançando as primeiras posições dos catálogos nos dois lados do atlântico o que transformou o grupo em um dos mais adorados por hippies da época. Em agosto foram assistidos por cerca de 80.000 pessoas no Newport Pop Festival o que gerou lucro o suficiente para arrendarem uma pequena casa de shows na Sunset Boulevard em Los Angeles, onde se tornaram a banda da casa e que costumeiramente recebia outros grandes nomes da música, entre eles Jefferson Airplane, Grateful Dead e Sly & the Family Stone.
Em setembro do mesmo ano partiram para sua primeira excursão europeia, passando por Reino Unido, França e Alemanha, onde também fizeram suas primeiras aparições na TV.

Vivendo o Blues

Em novembro de 1969 colocavam seu terceiro LP no mercado, Living the Blues foi lançado em vinil duplo, contendo releituras de clássicos do Blues e temas originais, além de uma colagem sonora que incluía pedaços de outras canções, barulhos diversos e fraseados de guitarras aleatórios e uma derradeira faixa de cerca de 40 minutos de duração gravada no Kaleidoscope – a casa de shows comprada pelo grupo – que ocupava os dois lados do segundo disco. O disco inclui o maior sucesso comercial da banda “Going Up the Country”, que ficou no Top 10 dos catálogos de 25 países incluindo EUA e Reino Unido.
Ainda era previsto o lançamento de um álbum totalmente ao vivo, que chegou a ser gravado no Kaleidoscope, mas foi engavetado devido a problemas legais entre o empresário Skip Taylor e a Liberty pelos direitos da obra. A banda encerraria o ano num show especial de ano novo no Shrine Auditorium em Los Angeles, com a casa lotada e com direito a um bêbado Bob Hite subindo nas costas de um elefante de circo especialmente contratado para o espetáculo.

Mudanças na formação e o festival de Woodstock

Após um começo de ano mais ameno que o anterior em julho lançam o álbum Hallelujah, menos inspirado
que seus antecessores e apesar de bem cotado pela critica não caiu totalmente no gosto popular.
Poucos dias após o lançamento do seu quarto disco durante uma temporada no renomado Fillmore West, Henry Vestine e Larry Taylor se desentendem em pleno palco causando uma grande confusão, a briga se estendeu ao backstage resultando na demissão de Vestine que seria substituído na noite posterior pela dupla de guitarristas Mike Bloomfield e Harvey Mandel, este ultimo, posteriormente aceitaria fazer parte da banda suprindo a falta de Vestine. A nova formação ainda faria mais duas apresentações na casa de shows de Bill Graham antes de viajarem para sua aparição no lendário festival de Woodstock.
Chegaram a Yargu’s Farm de helicóptero, onde no dia 16 de agosto fizeram uma das suas melhores apresentações de todos os tempos, em frente a 500.000 hippies levantaram o publico com músicas como “Let’s Work Together”, “Leaving This Town” e “Going Up the Country” – esta que se tornaria uma espécie de hino não oficial do evento.

O Blues do futuro 

Antes de iniciarem sua terceira turnê europeia gravaram no Village Records em Los Angeles seu quinto álbum de estúdio, Future Blues, onde pela primeira vez assumiram a produção de um disco o que resultou num trabalho mais intimista e o mais próximo que o grupo conseguiu chegar do som que sempre almejaram fazer. Somente após o final da excursão pela Europa lançaram o single “Let’s Work Together”/”I’m Her Man” – pronto desde o final do ano passado – para coincidir com o lançamento do álbum Future Blues em 3 de agosto. Na volta aos EUA, Larry Taylor e Harvey Mandel resolvem deixar a banda e voltar á Londres para se juntarem aos Bluesbreakers de John Mayall a quem haviam conhecido na Inglaterra durante a recente turnê, deixando espaço para a volta de Henry Vestine que trouxe consigo o baixista Antonio de La Barreda com quem havia tocado anos atrás em bandas do underground americano. Naquele mesmo mês foram apresentados ao lendário bluesman John Lee Hooker, que aceitou gravar algumas sessões com o grupo no Liberty Studios em Los Angeles.

A trágica morte de Alan Wilson

Cerca de um mês após o lançamento de Future Blues sua obra mais ambiciosa até então, o guitarrista Alan Wilson foi encontrado morto nos fundos da casa de Bob Hite em Topanga Canyon, vitima de um suposto suicídio com a mistura letal entre álcool e barbitúricos. Os fatos de sua morte nunca foram realmente esclarecidos, apenas acredita-se na possibilidade de suicídio levando em consideração que durante sua adolescência, Wilson sempre demonstrava ser uma pessoa desequilibrada e com tendência ao suicídio, que já havia tentando por outras duas vezes. O primeiro disco ao vivo do grupo foi lançado como uma homenagem póstuma a Wilson, intitulado Concert Live in Europe, que consistiu num apanhado das apresentações realizadas na ultima turnê europeia, sendo que grande parte das gravações foi tirada de uma noite no Royal Albert Hall em Londres.

A nova era

O grupo ainda lançou mais três LPs em 1971 com gravações feitas enquanto Alan Wilson ainda estava vivo, o primeiro deles Vintage, é composto pelo apanhado de canções gravadas em 1966 durante a primeira sessão em estúdio com Johnny Otis, o segundo Live at Topanga Corral é o disco ao vivo gravado no Fillmore East em 1969 que acabou sendo engavetados, ambos foram lançados pelo selo independente Wand Records e o terceiro chamado Hooker ‘n’ Heat foi extraído da Jam realizada juntamente com John Lee Hooker no ano anterior sendo o ultimo disco do grupo a ser publicado pela Liberty. Após isto a banda passou por momentos de instabilidade e incertezas, mas seguiu firme na estrada lançando mais alguns bons álbuns, como Historical Figures and Ancient Heads (1971) e The New Age (1973) até a morte de Bob “The Bear” Hite em 1981, vitima de um ataque cardíaco fulminante. Os membros remanescentes mantêm o Canned Heat na ativa até hoje, mas o sucesso parece mesmo ter morrido junto com seus dois lideres.

Discografia básica:

Canned Heat (1967)
Boogie with Canned Heat (1968)
Living the Blues (1968)
Hallelujah (1969)
Future Blues (1970)
Concert Live in Europe (1970)
Vintage (1971)
Live at Topanga Corral (1971)
Hooker ‘n’ Heat (1971)
Historical Figures and Ancient Heads (1971)
The New Age (1973)
One More River to Cross (1973)
Reheated (1988)

senha - acidexp

Um comentário:

  1. Tô aqui com Dengue, mas o que me deixou pior foi não ter nenhum comentário sobre este artigo.

    ResponderExcluir